Ah, as dores e delícias da Maternidade!
Primeiro você vai sentir medo. Medo que descubram que está grávida, como se isso de fato possa não ser revelado. Depois você vai sentir culpa. Culpa por ter cometido esse “erro” que mudará a vida de muitas pessoas, além da sua própria vida. Depois você vai sentir alívio. Alívio por ter ao lado pessoas que te ajudarão a levar a gravidez adiante.
Depois vem o amor. Se instalando de mansinho, quando você já puder passar por isso de ombros erguidos, quando perceber que não é o fim do mundo.
Você não vira mãe da noite para o dia, é fato. Você vai virando mãe, o instinto estará lá te acordando de madrugada, te fazendo reconhecer as necessidades dele, mesmo antes das suas. E, acredite, nesse caso, ser mãe na adolescência vai te ajudar muito. Você terá um vigor imenso, apesar dos hormônios, apesar das noites mal dormidas.
Fui mãe em três fases muito específicas da minha vida, foram experiências completamente diferentes uma da outra. 13, 21 e 37 anos.
Sempre sonhei em ser mãe, acho que sempre quis repetir a história que eu conhecia, no caso a história do meu pai e da minha mãe. Eu queria uma família, dois filhos, um cachorro.
O filho veio antes e claro que eu não estava preparada. Não tem como a gente se preparar para a jornada que é criar outro ser humano. A gente simplesmente vai lá e faz. E erra muito, perde a paciência, perde a cabeça, mas vive uma história de amor. E como toda história de amor, existem conflitos. Existe construção, e saiba que nessa história é a mãe quem mais abre mão. Não tem como ser diferente, pelo menos quando se tem um bebê do outro lado da relação. Conforme ele for crescendo ele também vai começar a abrir mão, a se colocar em seu lugar, a olhar para você como outro ser humano e não somente como a extensão do corpo dele.
Cara, a maternidade dói. É uma dor física que você sente quando alguém machuca seu filho. Dói na carne da gente. É preciso muita inteligência emocional, coisa que uma adolescente ainda não domina muito, pois também está em construção.
Então, se por um lado você tem vigor físico e menos medo da “vida”, por outro lado você ainda não está preparada para a avalanche de desafios que estarão por vir. E isso é normal! Relaxe. Nenhuma mãe precisa dar conta de tudo sozinha, mas a gente acha que precisa.
Eu dormi como uma criança e acordei como mãe. De repente era eu e meu filho dormindo no mesmo quarto, o choro de madrugada, meus seios vazando leite, a dor da césarea, as férias de dezembro indo embora e eu presa dentro de casa. (pensa numa adolescente presa numa quarentena? Foi isso que eu vivi aos 13 anos e isso marca!) O cachorro ainda era o dos meus pais, a casa dos meus pais, e a gente criando o filho meio junto. Arquei com as responsabilidades sozinha (mãe solteira) e sem a minha família eu teria desabado. Não precisei trabalhar para me sustentar, nem a meu filho, mas cuidava dele em tempo integral, com exceção da escola. Obrigada, pai e mãe, por me permitirem estudar. Ir à escola era como ir à balada. kkkk Eu fiz amigos com profundidade nessa época porque era o único lugar que frequentava sem o meu filho. E por lá eu omitia a maternidade, poucos sabiam, e eu podia fingir que eu era uma garota “normal”. Eu queria me encaixar, gente. Renunciei muitas vezes à minha história com medo e vergonha do que pudessem pensar de mim. Era como se eu houvesse cometido um crime, era como eu sentia muitas vezes. “Sou uma criminosa”. Não pude sonhar com a Universidade (só pude pensar nisso aos 24 anos, depois de casada e com mais um filho nos braços). Abri mão de festas, do primeiro emprego, das viagens com as amigas, de acordar tarde, abri mão daquela falta de responsabilidade que eu acho que nunca tive na vida, hahahah, eu nunca fui sozinha, sabe? Sempre tive alguém para cuidar, além de mim mesma. E olha que cuidar da gente já dá um trabalhão, não é mesmo?
Deixei de escolher muitas coisas em virtude da maternidade. Não dava, não cabia na minha vida certas escolhas, era sempre meu filho em primeiro lugar. Talvez seja fácil olhar para trás agora e ver que tudo deu certo. Dá um alívio grande, um orgulho. Estamos vivos, felizes, inteiros. Eu só fui enxergar algumas feridas há pouco tempo. Sim, a maternidade deixa marcas irreparáveis, na adolescência creio que ela deixe mais. Mas não são marcas apenas negativas, a maternidade deixa marcas e ponto final. Em qualquer idade, ok? Você ficará marcada para sempre, aceite!
Quando meu filho nasceu eu tinha 13 anos e eu senti o amor maior do mundo chegar, senti mesmo, foi uma explosão, eu entendi naquele momento o que significava sentir gratidão. E guardo em meu peito gratidão infinita a todos que me estenderam as mãos e pousaram sobre mim o afeto e não à recriminação.
Os desafios passeiam por diversos lugares; me senti egoísta muitas vezes. Me senti imperfeita, me senti sozinha, me senti excluída, me senti inapropriada, me senti deslocada.
Depois que me casei as coisas começaram a se encaixar, mas a diferença de idade entre mim e meu filho sempre será 13 anos e todo mundo tem curiosidade a respeito. “Apressadinha, você!” É o que mais ouço e nem sei por que ainda me dou ao trabalho de responder. Ninguém sabe nada sobre a minha vida, não julgue o que não conhece ou o que não viveu.
Afinal de contas o ônus e o bônus foram somente meus (e dos que estavam ao meu lado, e eu sei quem esteve ao meu lado).
Mas era difícil admitir que eu era a que mais me cobrava o tempo todo.
E o mais engraçado de tudo isso é que eu faria tudo de novo, se pudesse escolher. Não abro mão da dor, das feridas e dos tombos. Muito menos das alegrias que meu filho me proporcionou ao longo da vida e do orgulho do trabalho que fizemos juntos. Eu nunca fui uma mãe perfeita, nem quando tinha tudo encaixado “perfeitamente”; um casamento, uma casa, dois filhos e dois cachorros.
A vida é desafiadora o tempo todo. Todas as engrenagens existem para que a gente evolua. E a maternidade é uma engrenagem das mais complexas, você sendo uma menina, uma mulher, ou uma “sra” hahahahahah
Por isso, se jogue nessa jornada com toda a sua humanidade, inteira, completa. Com tudo de bom ou de “ruim” que possa existir dentro de você. Somos feitos de todas essas nuances e energias, e somente nos permitindo sentir cada uma delas é que saberemos quem somos e o que queremos para nós mesmos, e para nossos filhos. E depois tem as escolhas deles, que teremos que aprender a respeitar. Fato.
Se eu posso dar um único conselho? Aceite se quiser, ok?
Aproveite a caminhada, vai valer a pena!
Daqui a 30 anos a gente conversa e você me conta como foi…
Hoje meu filho tem 30 anos, acredita? E eu com 44 me sinto às vezes menos madura que ele.
Isso é formidável. A vida é uma surpresa sem fim.