Escancarando o Puerpério

Já tentei diversas vezes relatar os meses que seguem a chegada de um bebê em casa. É tudo tão desafiador e tudo mora tão longe da forma como costumo conduzir meus textos, que sempre paro em algo inacabado. Vulnerabilidade, já ouviu falar? Ter essa conversa é muito difícil! Então a gente rodeia, rodeia e vai para o conforto das palavras doces. E eu amo palavras doces.

Talvez seja o que aconteça com você e com a maioria das mulheres, “como posso contar que passei por tantas coisas difíceis, vão achar que não amo meu filho! Que sou preguiçosa! Que não gosto de trabalhar duro”.

A gente se cala e ninguém fica sabendo que é difícil para caramba. Olhamos as imagens de mulheres amamentando, maquiadas e modernas e falamos: por que não é assim comigo? É como casa decorada de revista, sabe? Ninguém mora naquele lugar por isso é tudo lindo e intocável. A vida real, no puerpério mais se assemelha a imagem abaixo.

Enrico e eu, 2013 (estou de pijama e não penteei os cabelos )

Não é porque foi, é ou ainda será difícil que não teve, não tem e não terá amor. Repita comigo! Não é porque foi, é ou ainda será difícil que não teve, não tem e não terá amor.

Quero começar por aqui esse texto. Tem amor em todo a caminhada, mas a caminhada é dura.

Você se sentir cansada, querer fugir, dormir, ou até mesmo chorar o dia todo não significa que não ame seu filho.

Me senti assim com meus 3 filhos, cada um com uma história única, mas em todos o puerpério foi repleto de emoções e desafios.
Filho não vem com manual de instruções. Esse é o aprendizado. Independente da idade, da sua maturidade, de suas condições financeiras, de seu nível escolar, você terá de lidar com isso.
Hoje eu relato minha última experiência, aos 37 anos, ano de 2013. Casada, morando numa casa grande, sem empregada (eu tinha uma pessoa que limpava a casa 3 vezes por semana e eu não lembro quem cozinhava, quem lavava roupa, kkk).

Os 5 primeiros meses foram muito difíceis, até eu aceitar que ele precisava de fórmula. Corrigindo, nós precisávamos. A minha maior expectativa era que ele mamaria no peito como minha filha do meio ( ela mamou durante 1 ano e 3 meses em livre demanda, livre mesmo). Ele mamava, entretanto dormia no peito. Eu tinha muito leite. Mas quando eu tirava o peito ele acordava. E aí ninguém dormia, a não ser que eu desse peito a noite toda e todos dormissem, menos eu kkk. Eu acho que ele mamava dormindo. Aconteceu algumas vezes, só que eu pegava no sono com ele no peito, mamando.

Quantas e quantas vezes acordamos com ele engasgando. Fora as cólicas, uma crise de choro todos os dias a noite, e nós acordados, com ele no colo, chorando junto. Era exaustão, era amor, era impotência. Tudo ao mesmo tempo.

Compramos um colchão para meu marido dormir no chão ao lado da cama, e Enrico dormia em nossa cama, mamando. Deitávamos cedo na tentativa de dormir bem, e muitas vezes acordávamos às 4 da manhã e não voltávamos mais a dormir (aliás quem dormia? hahaha) porque era cansativo só de tentar.

Tive candidíase mamária e se você não teve , provavelmemte você não sabe o que é amamentar com dor. Ela criava uma fissura no meu seio que não cicatrizava nunca porque Enrico mamava o dia todo. E eu tinha que colocar o seio no sol, limpar os seios e a boca do Enrico a cada mamada.

Angustiante demais, porque você vive num ciclo eterno muito desgastante. Nossos dias e noites eram dentro de uma névoa (você que está em puerpério sabe do que falo) eu passava o dia de pijama, sem banho, sem conseguir me alimentar de forma adequada, comia o que era mais fácil. Não tinha tempo para meu marido, meus outros filhos, ou qualquer outra coisa que não fosse manter eu e Enrico vivos hahahahaha

Meu marido e Enrico

Chorava porque não tinha com quem dividir, meu marido saía cedo e voltava a noite. Ricardo (meu filho mais velho) trabalhava e fazia faculdade e Bia, com 15 anos, vivendo a vida de uma adolescente. Ela era minha companheira de dar banho no Enrico, tirava a roupinha dele enquanto eu enchia a banheira, me fazia companhia quase sempre. Obrigada, filha.

Comecei a voltar a me cuidar, a me olhar de novo como um ser humano quase doze meses depois.

Mas a maternidade ficou em mim por longos anos. A maternidade gruda, né? Depois do puerpério melhora, viu? Mas tem que passar por ele e pedir ajuda, se for possível ter ajuda. Infelizmente a maioria das mulheres passa por isso sozinha. Por que será que uma mulher que passa por isso tem depressão pós parto, não é mesmo?

Quando meu marido chegava do trabalho eu tomava um banho, trocava o pijama e começava mais um ciclo de tenta dormir, acordar de madrugada com Enrico golfando os litros de leite que ingeria de madrugada quando eu já não suportava mais e dormia com ele no peito.

Até que resolvemos dar fórmula. Chorei demais, me senti uma péssima mãe, incapaz de alimentar meu filho no seio. Aos 5 meses a pediatra me mandou descer com ele pro berço e quarto dele, que até então ele ainda não tinha usado à noite. E lá fomos nós…

Coloquei o colchão ao lado do berço e dormi lá por umas 4 noites, foi quando ele largou o peito de vez e ficou somente na fórmula.

O puerpério é como se fosse uma escola, onde você é coloca à prova durante 3 meses no mínimo. E não adianta pensar que se eu tivesse introduzido a fórmula mais cedo eu teria tido mais “sucesso”! Foi um aprendizado único. Eu tentei amamentar porque toda mãe sempre tenta o que é melhor para seu filho. Mas no nosso caso o que era melhor? Amamentar e construir um círculo vicioso de dificuldades, ou dar fórmula e construir um círculo de harmonia e vínculo? Optamos pelo segundo.

Não existe uma fórmula mágica que funcione igual para todas as mães, famílias e bebês.

Existe a escolha que você fará, e eu tenho certeza de que você saberá escolher o que é melhor para vocês.

Estou escrevendo isso para que esse círculo possa ser amenizado na sua vida o quanto antes. Já será desafiador, então busque o equilíbrio.

Eu acho que eu fui dura demais comigo mesma. Eu queria ser a mãe perfeita e me frustei porque isso é impossível.

Essa mãe não existe. A mãe que existe é você, com toda a sua humanidade, e com suas necessidades fisiológicas postas a prova por um tempo longo demais. Se dê esse desconto e aproveite a jornada de foma leve, sem se punir. Seja feliz, o tempo se encarrega do resto. Tudo passa! Tudo passa!

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