O que realmente importa

Se a sua casa de repente fosse tomada pelo fogo, e você tivesse a oportunidade de lá entrar e pegar apenas 3 “coisas”. Já pensou o que seriam essas 3 coisas? Seria o seu faqueiro de prata? Sua bolsa Chanel? Ou aquela gravura que você adquiriu em sua última viagem à Europa? Tenho certeza de que nada disso passaria pela sua cabeça e suas opções seriam provavelmente as mesmas que as minhas, aquilo que realmente importa. Nossos filhos, nosso cachorro, e por aí vai…

Todas as coisas que possuímos fazem parte de nossa história, são úteis em nossa trajetória, mas sem elas a vida simplesmente continua. Se perdêssemos todas as fotografias reveladas, ainda assim você acessaria as memórias que delas ficaram, as experiências vividas. É disso que trata o Minimalismo, do que realmente importa para cada um de nós, e é dessa forma que venho levando a vida desde o ano passado.

Não foi da noite para o dia que isso aconteceu. Nenhuma transformação acontece de uma hora para outra. Essa mudança tem sido gradativa, diária. Vale lembrar que o cérebro nem sempre ajuda, precisamos o tempo todo lembrá-lo de quem somos e como pretendemos viver dali para frente, pois ele nos conduz para os caminhos antes conhecidos nos gerando angústia e muita confusão.

Por isso eu sempre digo e repito, organizar transforma a vida. Você só precisa se dar esse presente…

E foi assim que eu cheguei à semana que antecede à maior “mudança” da minha vida. Morei durante 12 anos (maior tempo em que vivi em um lugar) em uma casa imensa. Vim parar aqui por causa de um cachorro, hahaha. Sou filha de militar e a maior parte da minha vida eu vivi mudando de Estado, casa, cidade. Depois que me casei me mudei algumas vezes (4 vezes em 24 anos de casada), mas viver 12 anos em um único lugar, foi a primeira vez, o que torna esse experiência ainda mais profunda.

Imagem da minha casa azul, da qual me despeço amanhã. Essa trepadeira jasmim-poeta foi plantada por mim.

Explicando agora o por quê da mudança e o tal cachorro, hahahaha. Morávamos em um apartamento (120 metros quadrados) quando me apaixonei por um cane corso (raça de cachorro de porte grande). Íamos levá-lo para o nosso sítio, que ficava no interior de São Paulo, mas decidimos ficar com ele simplesmente porque foi um amor arrebatador(eu já tinha um salsicha adulto, ou seja, eram dois cachorros em um apartamento). Colocamos o apartamento à venda porque precisávamos de quintal e espaço (na época eu tinha apenas 2 filhos, hoje tenho 3 filhos e nenhum cachorro).

O fato é que vendemos o imóvel muito rápido e eu me mudei. Tivemos que comprar muitos móveis para encher os mais de 250 metros quadrados desta casa, mais quintal, mais jardim e horta. E fomos imensamente felizes. Não por causa do que compramos, mas porque amadurecemos nesse lugar, passamos por muitos acontecimentos marcantes, alegrias, tristezas, decepções, dificuldades, mudanças, gravidez, perda dos dois cachorros, perdas de familiares.

Enfim, foi no ano passado que a profissão de Personal Organizer bateu à minha porta, literalmente, parecia o pré-destino me cutucando porque mergulhei de cabeça de forma tão intensa que só posso agradecer ao Universo por esse encontro. Ele transformou a minha vida de forma muito rápida e profunda.

Nesse dado momento, quando fui aprofundando questões relativas a organização de espaços, a cada aprendizado, leitura, reflexão, fui diminuindo naturalmente os objetos da minha casa, fazendo releituras de alguns itens, doando, reciclando, vendendo (inclusive roupas). Até que resolvemos colocar a nossa casa à venda novamente (já havíamos feito isso anteriormente, mas por ser uma casa grande, acredito que a dificuldade fosse maior, ou não era chegado o tempo certo, acredito mais nisso do que na primeira opção).

Vendemos em um mês. O novo lugar, um apartamento no mesmo bairro, de 87 metros quadrados vai abrigar uma família completamente diferente daquela que fomos um dia, e somente aquilo que revela a nossa essência irá nos acompanhar. Foi difícil? Não, estávamos preparados.

Quando entendemos quem somos e o que queremos para a nossa vida, deixar “coisas” para trás não nos traz sofrimentos e, sim, libertação. O que importa eu estou levando comigo, e seriam as mesmas coisas que eu escolheria buscar caso o fogo invadisse minha casa.

Minha família e meus cachorros.

Além deles, escolhi a dedo o que vou levar comigo. Algumas plantas (ainda bem que tenho uma bela varanda, não é um espaço muito grande, mas eu já sei que será um dos meus espaços preferidos, pois nela estarão as plantas que levarei) móveis, objetos decorativos, apenas aquilo que conta história e tem significado. Ou o que é útil e me faz sorrir, claro. Me desfiz de muitas coisas e de forma tão natural e espontânea que penso o quanto de dinheiro na vida investi em coisas erradas. Mas tudo isso foi parte de um processo gradual, do qual sou imensamente grata. Sem ele, eu não seria quem sou hoje.

Não existem mais excessos, apenas de amor e zelo. E gratidão também. A tudo que vivi nesses últimos anos, e que não estou deixando para trás. Levo também comigo as dores e as alegrias de todo o aprendizado e do quanto me tornei melhor, mais consciente e sustentável.

Feche os olhos e reflita por alguns segundos. O que você escolheria buscar, caso a sua casa fosse invadida pelo fogo. Escolha 3 coisas. Isso é o que realmente importa em sua vida. E olha que, se bobear, você só vai escolher apenas uma. Cultive o essencial e seja muito feliz…

Placa feita pela Tsuru Criativo, empresa da querida Fabiana Pincinato, minha amiga
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