Olé! Continue fazendo a sua parte. Sobre Criatividade e Inspiração

Todo mundo que de alguma forma se envolve em processos criativos sabe o quanto é angustiante quando somos tomados pelo “nada”. Inspiração e criatividade não são coisas que nos aparecem quando queremos ou precisamos delas, elas simplesmente aparecem, e se você as perde naquele determinado momento, já era! Precisa aguardar o seu retorno. Se ele retornar, rs

Foi sobre isso que a romancista, Elizabeth Gilbert, falou em seu TED TALK (ideias que merecem ser disseminadas) há dez anos. Depois do sucesso estrondoso de “comer, rezar, amar” as pessoas passaram a perguntar se ela não tinha medo de nunca mais fazer sucesso. O livro se tornou um Best Seller e foi para a tela dos cinemas, protagonizado por nada mais nada menos que Julia Roberts. Recomendo o livro e o filme, ambos merecem passar pela sua vida.

Como a escritora mesma confidenciou; depois de um grande sucesso como ela faria para continuar escrevendo de forma criativa sem sofrer por cobrança dela própria e das demais pessoas? Ela passou a pesquisar sobre sua relação com o trabalho.

Se ela tinha medo de fracassar? Se tinha medo de nunca mais fazer sucesso? Sim, claro que sim, da mesma forma que tinha medo de tantas outras coisas. O que ela na verdade se perguntava era por que ela escrevia? Simplesmente porque esse era seu ofício, sua missão na Terra. Por que ninguém pergunta a um engenheiro químico se ele tem medo de ser engenheiro químico? Os escritores têm essa reputação, algo que foi se perpetuando ao londo dos tempos, são tidos como pessoas instáveis mentalmente, alcoólatras…

Alguns cometeram suicídios. Aceitamos que a Arte nos leva à angústia. Elizabeth não queria isso para ela. A pergunta passou a ser por que projetamos isso? Ela não queria passar o resto da sua vida se referindo aos seus trabalhos como o “trabalho que veio depois do meu sucesso”, porque isso, sim, a levaria a beber gim às nove horas da manhã. “Eu amo meu trabalho, mas como continuar de forma saudável minha trajetória?”, ela se perguntava.

Começou a estudar profundamente, e foi parar na Grécia e Roma antiga, se deixando envolver por um pensamento que nos ensina que não é você o autor da sua obra, você na verdade conta com a ajuda de um espírito criativo, uma entidade divina, que vem de longe te trazer a tal criatividade. E isso constrói uma espécie de proteção psicológica, pois de certa forma você deixa de ser o único responsável por aquilo. Se você fizer sucesso ou fracassar você pode dividir essa responsabilidade com alguém. Esse pensamento te liberta também do narcisismo, afinal de contas, pelos mesmos motivos, você não foi o único a ter aquela ideia. Com a chegada do Renascimento o homem passou a ser visto como o centro do Universo através do racionalismo humano, e com isso passou a ser enxergado como gênio. “Muita responsabilidade para nós, pois cria muitas expectativas, e agora?”, ela se perguntou.

Por que não acreditar em fadinhas que espalham sucos mágicos em nossos projetos? Quantas em quantas vezes ela enxergou seu processo criativo como paranormal.

Foi quando contou a história surpreendente da poeta, Ruth Stone, que trabalhava quando jovem na lavoura. Ruth dizia que via seus poemas chegando como se fosse um vento, e ela sentia isso porque a terra mexia sob seus pés, e nesse momento só restava a ela correr mais que o vento a fim de conseguir segurar o poema antes que ele passasse. Entrava em casa, pegava papel e caneta o mais rápido que pudesse, pois se o vento levasse o poema ela o teria perdido para sempre, muitas vezes pegava o poema pelo rabo, hahahahaha (Confesso que essa história, apesar de engraçada, me deixou toda arrepiada).

Elizabeth disse que era exatamente assim que os processos criativos dela aconteciam, como um lampejo, um vento…

O mesmo contou o músico Tom Waits; certa vez estava dirigindo em velocidade alta quando pode ouvir um fragmento de uma melodia, e naquele momento ele não tinha como agarrar aquilo, não tinha gravador, nem lápis, nem caneta. Em vez de entrar em pânico, olhou para o céu e disse: Cara, eu tô dirigindo, se quer mesmo existir, volte outra hora.

Elizabet se identifica com esse pensamento, e toda vez que pensa em engavetar um projeto, ela pára, respira e fala: “Escuta aqui! A coisa é nossa e se ela não for brilhante a culpa é sua também. Me ajuda, faça a sua parte, pois eu continuarei a fazer a minha.”

Interessante essa maneira de enxergar o ofício artístico de quem escreve, pinta, compõe. Fez todo sentido para mim, pelo menos. Quantas e quantas vezes acordei cheia de ideias (que não eram minhas) dentro da cabeça? Já desisti de escrever por achar que a escrita não me levava a lugar algum.

Elizabeth Gilbert finaliza o Ted nos contando que na Espanha quando um artista faz algo fantástico dizem: “Olé!”. Muitas vezes isso acontece em um único momento da vida, num lampejo, quando o artista transcende. Ela diz que isso é algo raro e emprestado. A pergunta que ela faz é: “se isso só acontece uma única vez, o que você fará com o resto da sua vida?”. Ela complementa: “Sendo ou não brilhante, tendo ou não sucesso, você precisa continuar fazendo a sua parte.”

“Não tenha medo, não desanime!” “Se o seu trabalho é dançar, dance! Se o seu trabalho é escrever, escreva! Faça com amor.”

“Olé! Faça a sua parte!”

Simplesmente inspirador.

Vai deixar o medo falar por você ou vai continuar fazendo sua parte, seja ela qual for?

Eu já tomei a minha decisão, até semana que vem.

Um beijo!

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